Projetar casas, edifícios ou outros tipos de edificações em encostas é uma tarefa delicada, que exige atenção especial e trabalho conjunto de arquitetos e engenheiros atuantes nas áreas de mecânica dos solos, projeto de edificações e cálculo estrutural. Os projetos elaborados para construções nesse tipo de região devem considerar o clima do local, a topografia e principalmente as condições do solo.
Um dos cuidados técnicos fundamentais para a construção em uma encosta ou em uma área próxima desta, é a sondagem (estudo que proporciona um perfil esquemático com os diversos tipos de solo de determinado local) para averiguação sobre o tipo de solo em questão e as condições do lençol freático, considerando o que se pretende construir. Unindo os resultados obtidos com os levantamentos topográficos, demais estudos geotécnicos e/ou geológicos e de meio ambiente, disponibiliza-se o referencial técnico/tecnológico para a realização do projeto e definição final em relação a viabilidade técnica e econômica para o empreendimento.
Figura 1: Deslizamento de encosta de prédio em construção. Fonte: Reformafácil.
Com a crescente ocupação das áreas urbanas, e a consequente diminuição dos espaços disponíveis para construção, principalmente em grandes centros as escavações profundas, cortes verticais e aterros de grandes dimensões são cada vez mais importantes para a implantação dos empreendimentos. Isso torna a etapa de contenção, uma das mais críticas durante a execução de uma obra, ainda mais importante. Vale lembrar que, em função dos riscos que a movimentação de terra envolve, erros de dimensionamento, de projeto e de execução podem ser fatais. Por isto os resultados de ensaios de laboratórios de solos e rochas e interpretação do perfil geológico e geotécnico do terreno obtido por meio de sondagens são extremamente importantes.
Em relação a locação e quantidade de furos de sondagem a serem efetuados em um projeto de contenção de encostas, encontramos instruções normativas, geralmente publicadas por órgãos públicos reguladores. Dentre estes se destacam a NBR 11.682, denominada ”Estabilidade de Encostas” e publicada pela ABNT em 2009 que preconiza no mínimo 3 (três) Sondagens à Percussão por seção de estudo, para identificar a estratigrafia e a característica das camadas existentes e a IP-DE-G00/002 publicada pelo DER/SP (chancelada posteriormente pelo DNIT) que não indica um número mínimo de furos de sondagem a serem realizados mas indica que “os tipos e as quantidades das investigações devem ser condizentes com a finalidade da etapa de estudo e dos aspectos relativos envolvidos por cada obra geotécnica, ou seja, porte, custo e riscos”.
A instrução trata ainda de seções especiais em relação ao tipo de intervenção, para Talude de Corte, em relação ao Projeto Básico, ”as sondagens à percussão devem ser executadas em quantidade suficiente para a obtenção de seções transversais de cálculo representativos, pelo menos a cada 100m”. É importante ressaltar que a instrução deixa claro que que as Sondagens à Percussão sejam executadas, em sua maioria, para subsidiar o desenvolvimento do Projeto Básico, visto que para o Projeto Executivo, as investigações devem ser realizadas somente em caráter complementar para dirimir dúvidas: ”As investigações geotécnicas e os ensaios de laboratório devem ser executados como complementação para fornecer parâmetros geotécnicos específicos, principalmente através de ensaios de campo e especiais de laboratório”.
Figura 2: Muro de Bloco Segmentado. Fonte: Muros Terrae.
Quanto se trata de Talude de Aterro, a instrução determina a separação das indicações em dois tipos: Aterro sobre Solo Mole e Aterro em Encosta Íngreme. A indicação principal em relação ao Aterro sobre Solo Mole é que ele deve ser evitado, ou seja, a concepção da rodovia deve evitar, tanto quanto possível as áreas com Solo Mole, mas para isso é fundamental que, nos estudos de concepção ou no Projeto Funcional, sejam executadas Sondagens à Percussão para auxiliar os técnicos na definição do melhor traçado geométrico dentre as alternativas estudadas.
Para os casos de Aterro sobre Solo Mole, como há a necessidade de identificar a área de abrangência desse solo e a sua espessura para avaliar a possibilidade de remoção total, o DER/SP informa que ”em geral, uma distância entre furos de 20m é suficiente. Porém, cada caso deve ser analisado individualmente e em conjunto com os estudos geológicos”.
No caso de Aterro em Encosta Íngreme, a instrução indica claramente que se deve conhecer a característica do terreno natural, na base do aterro, principalmente para verificar a existência de massas instáveis. Ressalta também ainda a necessidade de que as Sondagens à Percussão sejam executadas em comprimento suficiente para caracterizar o terreno natural até penetrar pelo menos 3m em camada resistente, com furos espaçados conforme as condições da sondagem, se for identificado solo mole deve-se investigar a cada 20m e se não houver esta ocorrência, segue-se a diretriz de talude de corte, ou seja, pelo menos a cada 100m.
Vale ressaltar ainda que em casos gerais, obras de contenção usuais para construção civil (sem o emprego direto para rodovias e/ou ferrovias) é importante que os furos de sondagem sejam executados tanto em área de corte como também na área do maciço a ser contido (vide figura 3) para que o profissional tenha a clareza tanto do tipo de material a ser trabalhado e transportado como também o tipo de material a ser contido pela estrutura a ser construída.
Figura 3: Desenho esquemático indicando a locação das sondagens. Fonte: ABMS.
É importante ressaltar que todas as prescrições normativas visam dotar o corpo técnico do empreendimento (engenheiros, geólogos, projetistas etc…) de vasto ferramental técnico/teórico para justificar e defender junto aos contratantes a realização de sondagens em número suficiente para que seja traçado de maneira clara e precisa o perfil geológico/geotécnico do terreno, item este fundamental para para elucidação de quaisquer dúvidas que os projetistas tiverem e com isto fundamental também para o sucesso do empreendimento.
Eng. Dário Furtado
Engenheiro Civil UFJF
Analista de Sistemas CES/JF
M.Sc. Engenharia COPPE/UFRJ
Referências:
ABMS. Acompanhe o Desenvolvimento de um Projeto de Contenção em Talude de 70º. http://www.abms.com.br.
CONSTRUÇÃO MERCADO. Contenções. Edição 47, Janeiro/2009.
CONSTRUÇÃO MERCADO. Construção Atual. Edição 154, maio 2014.
DER/SP – Instruções de Serviços Geotécnicos (IP-DE-G00/002).
NBR 11682:2009 – Estabilidade de Encostas. ABNT, 2009.
REFORMA FÁCIL. http://www.reformafacil.com.br. 21 de junho 2010.
SUPORTE SOLOS. Quantas Sondagens à Percussão devem ser Executadas em Taludes ? http://www.suportesolos.com.br.
Prezado, bom dia!
A ABNT NBR 11682:2009 recomenda no mínimo três sondagens por seção transversal da encosta. Todavia, a referida norma não apresenta uma metodologia para determinar a seção transversal da encosta.
Gostaria de saber como proceder para determinar essa seção? Existe algum método disponível na literatura?
Desde já agradeço.