Identificando matacões por meio do SPT

Os matacões são blocos de rocha de tamanho variado, pela NBR 6502 – Rochas e Solos, o tamanho pode variar de 20cm a 1m, no entanto, na prática usual de engenharia, os matacões podem apresentar tamanhos de algumas dezenas de centímetros até vários metros e podem ser subterrâneos ou superficialmente expostos.

Geralmente os matacões têm formato arredondado, moldados pela ação de diversos tipos de intemperismo – intemperismo químico (esfoliação esferoidal), variação de temperatura, ação de ventos, da água da chuva e das águas residuais presentes no solo do entorno. Em geral os matacões formados por erosão fluvial são menores dos que os formados pelo intemperismo químico, além de serem encontrados em ambientes de sedimentação, longe de sua área fonte, carreados por longas distâncias durante séculos, ao passo que os matacões formados por esfoliação esferoidal permanecem no seu local de formação, tendo sofrido pouco transporte, estando mais sujeito a ação da gravidade e do rastejamento do solo onde se formou.

As rochas mais prováveis de originarem matacões esféricos são as rochas ígneas (granito, sienito, gabro, basalto, entre outros), por serem isotrópicas em relação ao fraturamento e ao intemperismo. Intemperismo de rochas metamórficas, principalmente gnaisses, produzem em geral blocos e seixos achatados ou elípticos.

Em áreas de afloramento de granitos, em clima tropical, é comum a existência de muitos matacões aparecendo na superfície do terreno, dando origem à paisagem conhecida na literatura como Mar de Boulders.

Figura 1: Exemplo de matacão exposto, com características de Mar de Boulders. Fonte: Pedro Hauck.

De maneira geral os matacões podem gerar diversos tipos de problemas para os empreendimentos de engenharia, dependendo das características da obra. Toda obra em que se exige movimentação de terra ou utilização do solo como suporte, pode ser afetada pela presença de matacões no terreno. Segundo RODRIGUES (1978), as áreas com presença de matacões devem receber uma atenção especial devido a diversos problemas condicionados a essa ocorrência:

  1. Dificultam a terraplenagem, pois são, quando grandes, irremovíveis pelas máquinas;
  2. Em escavações, por vezes, exigem equipamentos extras para desmonte de blocos, tais como marteletes, compressores e explosivos;
  3. Durante a prospecção do subsolo, nos levam a pensar que o substrato rochoso foi atingido;
  4. Na abertura de Tubulões e Poços de Observação podem constituir obstáculos;
  5. Quando identificados podem levar a alterações nos projetos em geral.

Figura 2: Visão esquemática de um projeto onde as fundações se apoiam em matacões
devido a interpretação errônea dos laudos de sondagem. Fonte: Equipe da Obra.

Na grande maioria dos casos, a execução de uma sondagem correta, bem dimensionada, tomando como base o posicionamento dos elementos estruturais a serem construídos, acaba indicando com alto grau de precisão a presença dessas rochas no subsolo.

Os principais cuidados a serem observados são no tocante ao número e localização dos furos e aos critérios de parada e/ou profundidade a ser atingida pela sondagem.

Quanto a quantidade de furos a serem feitos, pode-se tomar como base as indicações de artigo técnico anterior “Furos de Sondagem: quantidade e localização”, no entanto ainda que sejam seguidas todas as prescrições normativas, é importante observar o item 6.4.5 na NBR 6484:2001

[…] antes da profundidade estimada para atendimento do projeto, a sondagem deve ser deslocada, no mínimo duas vezes para posições diametralmente opostas, a 2 m da sondagem inicial, ou conforme orientação do cliente ou seu preposto.

Figura 3: Ilustração do procedimento 6.4.5, NBR 6484:2001. Fonte: Souza (2004).

Quanto aos critérios de parada e/ou profundidade a ser atingida pela sondagem, pode-se entender que dependem basicamente das exigências do projeto ou dos objetivos do  estudo do subsolo. A Norma Brasileira NBR 6484:2001 fornece os critérios mínimos para orientar a limitação das sondagens voltadas para obras civis, no entanto, a resistência dos solos, o tipo de obra e as características do empreendimento podem exigir ensaios mais aprofundados ou critérios mais rígidos de paralisação.

Para que durante a execução da sondagem, não se perfure a mais ou a menos do que o necessário, implicando com isto em um maior gasto financeiro ou em um fator de segurança insuficiente, é recomendável o acompanhamento do trabalho por um profissional  especializado. Não são raros casos em que as sondagens são interrompidas de acordo com a “Norma”, porém insuficientes para se determinar os parâmetros necessários para o projeto.

Em relação a presença de matacões a NBR 6484:2001 não aborda explicitamente os procedimentos que devem ser tomados, no entanto, estabelece que a paralisação do ensaio deve ser condicionada aos objetivos almejados e subjetivamente, associa-se o caso em que pode haver impenetrabilidade em rocha ou matacão.

[…] A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio de avanço da perfuração por circulação de água, forem obtidos avanços inferiores a 50mm em cada período de 10 min ou quando, após a realização de quatro ensaios consecutivos, não for alcançada a profundidade de execução do SPT […]

[…] Quando da ocorrência destes casos, constar no relatório a designação de impenetrabilidade ao trépano de lavagem […]

Independentemente da correta localização e quantidade de furos e do atendimento aos corretos critérios de parada, é muito importante ressaltar que a caracterização inicial do terreno deve ser feita por um profissional qualificado, capaz de interpretar os dados geotécnicos da região e buscar informações complementares em artigos técnicos, livros, análises de imagens e fotos do local e/ou através de outros métodos rotineiros investigativos de campo. Este trabalho preliminar mostra-se muito importante, pois o uso de sondagens aleatórias pode trazer mais problemas do que soluções, custos elevados, interpretações equivocadas assim como escolhas indevidas de soluções de engenharia.

Eng. Dário Furtado
Engenheiro Civil UFJF – Analista de Sistemas CES/JF – M.Sc. Engenharia COPPE/UFRJ


Referências:
NBR 6484: Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. ABNT – – Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2001.
EQUIPE DA OBRA. Matacões: Saiba como esses grandes blocos de rocha interferem nos trabalhos da construção civil e aprenda a lidar com eles. Editora Pini, Novembro de 2001.
LIMA, Maria José C. Porto A. de. Prospecção geotécnica do subsolo. LTC, Rio de janeiro, 1979.
RODRIGUES J. D. About quantitative determination of rock weatherability, a case history, LNEC, 1978.
SOUZA, Luiz Humberto de Freitas. Identificação de Matacões por Meio de Sondagem a Percussão de Simples Reconhecimento do Subsolo na Cidade de Uberlândia, Caminhos da Geografia – revista on-line, UFU – Universidade de Uberlândia, 2004.

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